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CARTA DE [MAIS] UM ESTUDANTE EM DESESPERO

Esta carta é mais uma tentativa, talvez não a última [e irei lutar para que não seja], de solicitar emergencialmente um auxílio desta Universidade [Unila, Universidade Federal da Integração Latino-Americana], antes de chegar à estaca zero da possibilidade de continuar aluno dela. Já é de conhecimento da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da Unila boa parte de minha história e espero que tenham, também, entendido minha realidade e a urgente necessidade de assistência. Neste momento de desespero, em que me encontro com escassos recursos, abranjo mais o alcance de minha voz, na esperança de um esforço maior para solução de meus problemas e, de certa forma, também da universidade, já que não há vantagens, para nenhuma das partes, na evasão. Tomei conhecimento, por parte do Pró-Reitor responsável, dos ritos burocráticos que versam sobre o processo de concessão de auxílios, que aqui se praticam, mas não poderia simplesmente sentar, me contentar com a miséria e assistir a este processo de desresponsabilização da universidade, essa lavagem de mãos, como se não houvessem ônus em diversos sentidos. Sou calouro de Relações Internacionais e Integração desta instituição e estou em Foz do Iguaçu desde o período de matrícula em primeira chamada. Me instalei, desde minha chegada, em uma hospedagem solidária. Porém, a pessoa necessitará viajar e há a possibilidade de não retornar para o mesmo local. Não encontrei, até então, outras saídas, apesar da incessante busca. Vim através de vaquinha, arrecadada entre as pessoas amigas da cidade onde morava anteriormente, Goiânia, onde cursava um outro curso, em uma outra universidade, a UFG [Universidade Federal de Goiás], em que eu era beneficiado integralmente pela Política de Assistência de Estudantil de lá, após ser expulso de casa em virtude de minha orientação sexual, quando ainda morava com meu pai. Apesar da tentativa de reconciliação realizada pelo Serviço Social da UFG, e recusado imediatamente por ele, cortamos toda a relação. Ou seja, as condições não me permitem sequer uma tentativa de retorno à família [minha avó], devido à imensa distância que nos separa. Ela mora na cidade de Tocantinópolis, na região do Bico do Papagaio do Tocantins, onde morei até quatro anos atrás. Ela recebe um valor inferior a um salário mínimo, não consegue obviamente me ajudar neste momento. Logo as aulas se iniciarão e não consigo criar um horizonte de onde tirar o dinheiro da passagem do ônibus pra faculdade sequer, agora imagina para alimentação. Precisamos, de fato, falar sobre igualdade de oportunidades na educação, objetivo do Plano Nacional de Assistência Estudantil [PNAES], pois saiba que ela não existe quando uma pessoa é sujeitada a uma imensa espera [para quem de fato necessita, dois meses é muita coisa], que é, no mínimo emocional e psicologicamente desgastante, até que consiga sair da subexistência. Não achem que estão promovendo igualdade de oportunidade, enquanto algumas pessoas são sujeitadas a uma apreensão e insegurança, da possibilidade de não serem auxiliadas, enquanto algumas estão preocupadas apenas em quais são os materiais que comprarão para o decorrer do semestre ou enquanto umas se preocupam onde vão comer, outras espremem o máximo que podem para que os míseros R$300 de alimentação, da política de assistência estudantil da Unila, renda por todo o mês, isso sem contar no relento da inseguridade alimentar que isso submete, algumas pessoas lutam para conseguir chegar à universidade todos os dias em segurança, após serem violentadas física e simbolicamente todo o caminho até chegar aos locais de aula, assim como no retorno pra casa. São desconsideradas outras necessidades básicas das pessoas estudantes, como materiais de estudo, xerox, materiais de higiene, etc. Sim, existem pessoas sem vínculos familiares e, consequentemente, estão submetidas ao léu. Existem pessoas que veem a universidade como último refúgio, principalmente em casos de abusos, violência familiar, dentre outros motivos, ou seja, vocês têm estudantes que beiram a miséria. Eu poderia estar me culpando, como é sugestivo, por simplesmente não ter me preparado o suficiente antes de vir, ou mesmo pensado mais um pouquinho, como se eu tivesse condições práticas para tal, mas não irei, por ainda acreditar num projeto de universidade mais inclusiva, para além do discurso. Não peço nada mais do que a oportunidade de mostrar meu valor, de continuar, de estudar. Estamos falando de sonhos e estes não deveriam simplesmente serem jogados pela janela da burocracia. Precisamos de uma assistência estudantil mais acolhedora, que proporcione pontes objetivas para formação político-pedagógica daqueles e daquelas que realmente necessitam, rompendo com as amarras da hipocrisia, que instalam uma impressão assimétrica das condições de permanência. É necessário, mais do que nunca, reconhecer que um estudante negro, pobre, gay, do interior não está em pé de igualdade com a maioria dos outros estudante. São vetores que precisam estar mais visíveis nas mais diversas considerações.

Enfim… Peço cordialmente que simplesmente não ignorem este e-mail. Preciso, mais do que nunca, do suporte desta universidade.

Leo Al Graduando em Relação Internacionais e Integração, Universidade Federal da Integração Latino-Americana.