Por Felipe Pinheiro em Por Esto

Dormia
A nossa pátria mãe tão distraída
Sem perceber que era subtraída
Em tenebrosas transações

Chico Buarque de Holanda

A tragédia dos estudantes, esquecidos pela forma de gestão e órfãos de representantes, parece encontrar um novo contexto nas mobilizações que se programam em todos os cantos do Paraná.

É uma reação ao autoritarismo como regra de convívio em uma Universidade que nasce no contexto de um projeto desalinhado com todos os segmentos internos. 

Não podemos competir, no entanto, com a arte do teatro providenciado por Vanessa Rasoto e Luiz Pilatti, um dupla sertaneja, sem melodia nem harmonia.

Dizem as más línguas que “uma galinha e um bode são melhores na arte do engodo”. Talvez o fossem, também, na arte da eleição, haja vista uma campanha sem eira nem beira.

Na tarde desta sexta-feira, sem razão para estar, a Assessora de Assuntos Estudantis, decidiu, no laço, participar da reunião com as entidades estudantis em uma reunião com o Núcleo de Acompanhamento Psicopedagógico do campus Curitiba.

O intento era efundir, como de costume, um discurso pífio sobre o fato da reitoria, com seu modus operandi, ter excluído além da metade os alunos em condição de vulnerabilidade do programa de assistência estudantil.

A querela, sempre a mesma: “o governo está crise”. Logo, a universidade também está. A má notícia interpretada pela assessora, que no caso do ‘desemprego’, se tornaria pró-reitora, era de que “as coisas irão piorar”. O bom informe é que seguiremos rumo à classe mundial.

No tom da conversa parece até uma ameaça, não pelo fato da crise institucional e econômico-financeira que  o governo enfrenta, mas por não haver motivos de desesperança. É sabido, pelas fontes de repasses do governo federal, que não ocorreram cortes na assistência estudantil. No entanto, a assessoria insiste em manter a querela de que faltam recursos. É de conhecimento geral, também, que do montante destinado à UTFPR, o número de bolsas concedidas está abaixo dos repasses totais.

Para tentar ocultar os escândalos, a publicidade de aplicação interna dos recursos estão nubladas, uma total merencória.

Enquanto isto, alunos dormem sem ter a expectativa de que terão moradia, alimento e transporte para poder dar continuidade ao ensino-aprendizado. Onde habita, neste sentido, a equalização de oportunidades na educação superior invocada na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988?

É um projeto funesto, exterminar os mais frágeis no intuito de lotear o organismo estudantil vivo.

No campus Curitiba, dos 1.364 processos totais em solicitação do auxílio estudantil, 866 foram indeferidos (63,49%). Em Dois Vizinhos a soma cresce, os indeferimentos atingiram 68,04%. Os demais, como Apucarana, Campo Mourão, Ponta Grossa e Francisco Beltrão beiram os mesmos números. No panorama geral destes campus, 58% terão seus benefícios negados.

Se fazem isto com os estudantes, o que não hão de fazer com a Universidade?

No país em que apenas 15,1% da juventude na idade própria ocupa cadeiras nos cursos de graduação, é vergonhoso veicular que se trata do “puro assistencialismo”.

Não trata-se apenas da vulnerabilidade de renda, mas de fornecer subsídios para que esta pequena parcela pratique o ensino, a pesquisa e a extensão, que contribuem direta e indiretamente para a formação das bases sociais que não podem ingressar no ensino superior.

A norma é clara, a vara é dura, apanha quem chora mais.

O Conselho Universitário fechou os olhos, apagou as luzes e retirou-se para os aposentos. A pauta da próxima reunião será a lista tríplice, nada mais, até porque é preciso aprovação da maioria dos conselheiros para incluir qualquer outra pauta.

Um fato curioso, no entanto, chama a atenção. No dia 15 de abril de 2016, 12 dias anteriores à pesquisa para reitor, a reitoria decidiu transferir o período de análise dos recursos dos dias 25 a 29 de abril, para os dias 27 a 29, a fim de que a publicação dos resultados não afetassem a campanha da chapa de situação. Uma conduta lamentável e que torna ilegítima esta campanha no domínio das condutas.

Os estudantes não tem voz, nem voto, a representação é um mero detalhe no cenário das pautas estudantis sendo fragmentadas e minorizadas à luz dos escândalos de improbidade e morosidade.

Negar a pauta histórica de forma tão biltre explora o perfil gerencialista da Universidade que teremos nos próximos quatro anos. É preciso evitar a sedução.

Espero a promessa aos Corintos: a justiça será paga com a justiça.