Enquanto PERMANECER no espaço universitário for um privilegio, LUTAR por assistência estudantil será um dever da classe trabalhadora que passa pela peneira do vestibular em busca de realizar seus sonhos e de suas famílias.

Nos últimos anos tentativas dos Governos Estaduais e Federal buscaram implementar politicas que democratizassem o ingresso de jovens das classes mais baixas no ensino superior, algumas dessas tentativas resultam em de fato o ingresso da classe trabalhadora no âmbito universitário, em contra partida o vestibular continua elitizado.

Para além das dificuldades de ingressar na universidade os filhos e filhas da classe trabalhadora sofrem desde o dia da matricula para se manterem em seus cursos, principalmente quando vão estudar longe de casa. As politicas de garantia à permanência universitária são muito precárias e estão longe de atender toda a demanda de estudantes com vulnerabilidade social. Alimentação, transporte e moradia são o mínimo que nós estudantes com vulnerabilidade social precisamos para nos manter em nossos cursos. Muitos jovens abandonam seus sonhos de se graduarem semanas depois de efetivarem as matriculas em seus cursos. O motivo é justamente a ausência de assistência estudantil.

Por resistirem e lutarem para conseguir condições mínimas de permanecer em seus cursos estudantes em todo o país ocupam reitorias, prédios administrativos e salas de aulas nas universidades em todo o Brasil.

No inicio do ano passado alguns campis da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) foram palcos de ocupações por estudantes que não tinham onde morar durante a graduação. No campus de Araraquara 38 estudantes foram expulsos (as) da Moradia Estudantil, de acordo com a administração da universidade os (as) estudantes não atendiam exigências como a faixa mínima da renda familiar.

Depois que a universidade não aceitou dialogar com os (as) estudantes foi decidido em Assembleia que ocupariam algum prédio do campus, a ocupação durou 20 dias a partir do dia 30 de maio. O resultado desta e de outras ocupações em outros campis, todas motivadas pela precariedade das politicas de garantia a permanência universitária, resultaram em processos de sindicâncias em todos os Campis da UNESP.

Para além disso as medidas ditatoriais da reitoria da UNESP resultou na expulsão de 17 estudantes, 15 estavam na ocupação na noite em que a PM foi acionada para fazer a ‘desocupação’, nessa noite esses quinze estudantes foram presos, os outros dois estudantes expulsos não estavam na noite da ação policial.  A expulsão dos estudantes foi oficializada dia 29 de janeiro de 2015.

A Secretaria Nacional de Casas de Estudantes (SENCE) acompanhou muitas ocupações por permanência estudantil, principalmente nos últimos anos. Em 2013 os estudantes Josemiro Oliveira, Daniel Fernandes e Rômulo Ricardo da Universidade Federal do Maranhão fizeram greve de fome durante cerca de 9 dias, enquanto outras pessoas ocupavam prédio da universidade depois que a reitoria desviou a finalidade do prédio que serviria como uma residência universitária dentro do campus do bacanga.

A expulsão dos (as) 17 estudantes da UNESP e a luta pela reintegração dos (as) mesmos (as) certamente ficará registrado no histórico do Movimento Estudantil que nos últimos anos mostra o quanto as bandeiras dos estudantes da classe trabalhadora não estão nas pautas de alguns coletivos e entidades que ainda são muito elitizados.

A Secretaria Nacional de Casas de Estudantes (SENCE) em nome do Movimento de Casas de Estudantes (MCE) repudia por meio desse a ação autoritária da reitoria da UNESP por processar e expulsar 17 estudantes que lutaram por seus, bem como de outros, direitos de permanecer na universidade. Repudiamos também o modo como a instituição trata a permanência universitária, que quando não contempla toda a demanda é inexistente.

Manifestamos aqui também nossa solidariedade aos 17 estudantes expulsos (as) e aqueles (as) que ainda respondem processos de sindicâncias. Como estudantes trabalhadores/trabalhadoras, filhos e filhas de trabalhadores e trabalhadoras sabemos o quanto nos é difícil permanecer na universidade que ainda é um espaço elitizado e conservador. Declaramos que estamos presentes para carregarmos a bandeira de reintegração dos (as) estudantes expulsos e trazermos a discussão para nossas casas/ moradias / residências estudantil afim de não vermos mais nossas companheiras e companheiros abandonarem seus sonhos por ineficiência e/ou ausência de politicas de permanência estudantil nas universidades publicas e particulares.

Se permanecer é um privilegio, ocupar é nosso dever.

Também assinam essa nota:

Secretaria Norte Nordeste de Casas de Estudantes (SENCENNE)

Casa de Estudantes do Pará – PA

Casas de Estudantes do Tocantins – TO

Residência Universitária de Alagoas – AL

Residência Universitária Masculina e Feminina – PB

Residência Universitária Feminina Elizabet Teixeira – PB

Movimento Organizado de Residências Estudantis (MORE) – RN

Residência Universitária 1,2,3 e 5 da UFBA – BA

Casas de Estudantes da UNEB – BA

Associação de Casas de Estudantes da Bahia – BA

Residências Estudantis da UFRB – BA

Casas de Estudantes da Universidade Estadual de Feira de Santana – BA

Casas de Estudantes do Maranhão – MA

Residências Universitárias da UFC – CE

Casas de Estudantes da UFPE – PE

Casas de Estudantes da UFG – GO

Casas de Estudantes Universitários da UFMG – MT

Moradia Estudantil da UFSCar – SP

Associação dos Moradores do CRUSP – SP

Casa de Estudantes Universitários de Viçosa – MG

Moradia Estudantil da UFF- RJ

Alojamento da UFRJ- RJ

Casa de Estudantes de Pelotas – RS

Casa de Estudantes de Santa Maria – RS

Casas de Estudantes Universitários da FURG – RS

Casas de Estudantes de Santa Catarina – SC